Estavámos ansiosos por esse dia da viagem, finalmente sairíamos de uma altitude de aproximadamente 600 m para 4.870 m, passando pela Cordilheira dos Andes, e sofrendo uma redução brusca de temperatura.
Particularmente esse era o trecho que nos preocupava, pois o frio extremo é algo que não estamos acostumados no nosso velho Mato Grosso.
Até na hora de sairmos persistiam as dúvidas: colocar ou não maior proteção de frio, usar ou não capas de chuva e luvas impermeáveis, pois a informação que tínhamos é que a temperatura poderia chegar a 5 graus em poucos quilômetros devido a altitude, e não teríamos lugares para trocar de roupas, mas estávamos saindo de uma temperatura de 32 graus!!!
Entendo que tomamos algumas decisões erradas. Eu (Mirian) por exemplo sai do hotel com uma segunda pele para frio extremo e durante os primeiros 200 quilômetros cheguei a passar mal de calor. O Gustavo colocou a segunda pele na calça e suou tanto que encharcou a calça e a bota. Nossa roupa de inverno pesou muito e tirava nossa mobilidade, era difícil até para subir na moto, e quando começamos a subir acrescentamos ainda a capa de chuva já que esta era iminente.
Passamos por um vilarejo chamado Marcapata, a 3100 metros de altitude onde estava havendo uma comemoração que não entendemos bem o que significava (ficamos sabendo depois que se tratava de entrega de maquinário pela prefeitura local), mas podemos observar a população daquele lugar, que mesmo com chuva e frio se reuniam numa praça, as mulheres na maioria de saias, tranças nos cabelos, agasalhos coloridos, sandálias de couro no pé e chapéu para proteção da chuva.
As crianças muito mal cuidadas para nossos patrões, mas muito curiosas e sorridentes. Parecia que o tempo não havia passado por aí, nos sentimos em outro mundo, num filme talvez. Ficamos tentando imaginar como aquelas pessoas sobrevivem naquelas condições de pobreza e temperatura, que no inverno chega a 10 graus negativos.
Foi nesse local que tomamos o chá de coca para nos aquecer e evitar as sensações das altitudes que são tonturas, falta de ar, lentidão dos movimentos, dor de cabeça, dor na nuca e em algumas pessoas até vômitos.
Além do chá pela primeira vez masquei a folha da coca, achei muito amarga, mas se era para evitar todas aquelas sensações, achei por bem permanecer com aquela bola de folha no canto da boca.
Saímos de uma temperatura de 26 graus (altitude aproximada de 1.500 m) e atingimos o ponto mais alto (4.741 m de altitude no nosso GPS) numa temperatura de 6 graus, isso em mais ou menos 40 minutos, e percebemos que toda a roupa realmente era necessária, pelo menos pra mim, que senti frio apenas nas mãos, mesmo estamos com luvas impermeáveis e térmicas. Mas o Gustavo continuava suando com toda aquela roupa, mesmo na temperatura mais elevada.
Mesmo com o frio intenso e com a chuva que mesmo leve era constante (o que dava uma sensação térmica ainda menor), a viagem foi deslumbrante, a paisagem é inesquecível e indescritível! Tiramos muitas fotos e fizemos vários filmes, mas a impressão que tínhamos era que nas fotos não expressavam toda a grandiosidade daquele lugar.
As montanhas são gigantescas, imponentes, e em vários pontos derramavam cachoeiras que se encontra com rios de águas cristalinas e cheios de pedras. Em alguns trechos o a fluxo de água que desciam das montanhas seguia paralelamente a rodovia, deixando a paisagem da cordilheira ainda mais deslumbrante.
Durante todo o percurso, nos lugares mais ermos, altos e que pareciam inacessíveis era possível observar casas de moradia, geralmente de pedras e com criações de ovelhas ou lhamas
Paramos no ponto mais alto, Passo Abra Pirhuayani (4725 metros de altitude), e ao descer das motos algumas pessoas passaram mal, inclusive eu. Tive falta de ar e tontura, mas aos poucos fui me recuperando, com a ajuda e os carinhos do meu amado. Obrigada meu amor, te amo!
Várias crianças foram ao nosso encontro pedindo dinheiro (uma propinita), e como já tínhamos observado antes, em situação de extrema pobreza. Uma dessas crianças nos ofereceu truta assada com batatas, que estava muito saboroso, e que nós ajudou a nutrir, já que estamos apenas com o café da manhã, apesar de não termos a sensação de fome, que foi tirada pelo chá e pela folha da coca.
Essa refeição, no ponto mais alto foi fantástica, uma sensação de estar vivendo realmente uma aventura, de estar realizando um sonho, um momento mágico, uma conquista!
Na descida a temperatura foi aumentando novamente, acabamos levando aproximadamente 13 horas de viagem e chegamos em Cusco já havia anoitecido, aproximadamente 20:00 horas.
Tivemos alguns problemas com o hotel que era muito ruim, mas como nosso guia ainda não havia chegado (estava acompanhando o carro de apoio), tomamos um banho e fomos comer alguma coisa na Praça de Armas no Centro da Cidade, afinal tínhamos tomado apenas café da manhã e comido a truta com batatas. Mas assim que chegou nosso companheiro Braulio tratou que providenciar outro Hotel imediatamente, e dormimos com muito conforto no Hotel San Agustin.
A nossa única chateação, que ainda não superamos, foi que durante o percurso, quando fomos colocar as capas de chuva, talvez já atordoados pela altitude, perdemos nossa câmera onde eu tiro fotos e filmo em cima da moto, e com isso perdemos esse material. Mas não será isso que estragará nossa viagem.
Abraço a todos e um beijão especial para nossos filhos Amanda, Guilherme e Ana Beatriz. Fiquem com Deus.
Algumas palavrinhas pelo Gustavo:
Oi Pessoal, gostei muito do relato da Mirian que reflete bem o espírito da nossa viagem, mas mesmo assim gostaria de fazer alguns apontamentos sobre as minhas impressões. Acho que assim vai ficar até mais legal, pois teremos o relato sob duas óticas.
Neste trajeto, como já foi relatado acima, eu simplesmente encharquei a minha bota com o meu suor...impressionante o calor que fez, mas também a culpa era minha, uma vez que coloquei uma roupa pro frio das altitudes e não daquele calor infernal.
Durante o trajeto passamos por vários vilarejos, equivalentes a acampamentos de sem terra no Brasil, e depois fiquei sabendo que eram pessoas em busca de ouro e madeira...as condições de vida destas pessoas eu nem vou perder tempo relatando...vocês já devem ter uma noção...
A estrada pra variar era muito boa e permaneceu assim durante todo o trajeto, até que chegou o momento mais esperado por mim: a tal subida e as curvas cotovelo!!!
Para quem gosta de dirigir esta estrada é o paraíso! Curvas, curvas e mais curvas...vales, pontes sobre rios maravilhosos, cachoeiras lindíssimas e uns paredões que nos intimidavam, pois você olhava pra cima e virando sua cabeça até o final ainda não conseguia enxergar o pico!
A Floresta era simplesmente fantástica. As veze de um lado só da rodovia, as vezes dos dois...intocada, onipotente, sublime!
Eu estava com tanto calor que nem queria colocar as roupas de chuva, mas esta era a medida correta, pois em menos de 60 km saímos de 600 metros de altitude para quase 5.000!
Nesta subida mais íngreme pegamos chuvisqueiros e em alguns lugares as águas que desciam cruzavam a estrada. Por cima da estrada!
Pode parecer até bonito a idéia de cruzar águas sobre as estradas e até um tanto quanto aventureira, mas a verdade que estas águas criam um limo, um lodo mesmo no concreto e dois amigos acabaram caindo em uma dessas travessias. Graças a Deus nenhum dano! E seguimos viagem.
A temperatura despencou e no ponto mais alto eu cheguei a tirar o capacete, a balaclava e as luvas...pra mim não estava tão frio assim, pelo menos não com toda aquela roupa.
O nosso grande companheiro, o intrépido Dr. Oscar Velasco (de jauru) providenciou uma truta maravilhosa, com batatas (assadas na pedra) feita por moradores daquela região inóspita...comemos o estoque de trutas deles, ao preço de 10 solles cada...
Tinha uma turminha mais enjoada na viagem, muito preocupados em não comer isso, em não beber aquilo mas que quando viram a truta entraram literalmente de boca! Rachei de rir! Quando a fome bate na porta a frescura pula a janela! kkkk
A descida também foi igualmente maravilhosa, e tivemos o prazer de termos um pôr-do-sol andando de moto nas cordilheiras do Peru! Maravilhoso mesmo.
A nossa fiel companheira, BMW GS 1200 ADVENTURE 2010 está se mantendo firme na viagem e já ganhou o carinhoso apelido de Bitrem, pois de longe é a moto mais pesada de todas.. O duro é agüentar o Carlão Velasco e o Rogério Pimenta me mandarem parar nas balanças das estradas para fazer a pesagem!!!!kkkkk Isso é legal e eles tem sido grandes companheiros de viagem.
Ontem nos encontramos com as mulheres que vão seguir de Cusco a Lima conosco. O Grupo enfim está completo!
O Frio não me incomodou tanto, mas a Mirian sentiu bastante. Chegamos em Cusco a noite e depois de nos instalarmos no Hotel fomos jantar...aproveitei para tomar um Pisco. Em Roma como (ou coma?rs) os Romanos!
Devido a precariedade do primeiro hotel fomos forcados a mudar para outro, muito diferente! Estamos bem instalados e com muito conforto.
Faremos hoje um city tour logo após o almoço.
A cidade respira história e depois postaremos mais impressões. Devo mandar fotos hoje também.
Ainda acho que vamos encontrar a nossa câmera! Que Deus nos ajude.
Até mais e fiquem com Deus!
Olá casal aventureiro encontrei vocês hoje neste blog e já estou de carona serei companheira de viagem curtindo as postagens de vocês ok, sou amiga da Lana esposa do Dr. Oscar aqui de Jauru.
ResponderExcluirAbraços e boa viagem
Sigam com Deus
Oi Maria...somente hoje conseguimos responder às postagens...estamos juntos!
ExcluirMandem mais notícias adorei o lado filosófico de vocês ao fazer os comentários. O bom mesmo é este modo de enxergar as coisas. A diferença nos fazer refletir e crescer. Estou na "bagagem" de vocês online. Às vezes este "bitrem" trava, não quer abrir as fotos direito ( a minha internet até parece aquela da migração peruana)RSSSS. Fiquem com Deus. Adoreiiiiiiiiiiii!
ResponderExcluirClenisma...postei um texto hoje e queria que você lesse com carinho...fique com Deus!
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