quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Décimo Terceiro dia de viagem – 16/01/2012 – Segunda-feira - Lima à Camana



Por Mírian:

Percorremos o trecho de Lima a Camaná, retornando pela cidade de Ica e Nazca, onde fizemos 2 dias antes o sobrevoo de teco teco para visualizar as figuras enigmáticas.

Saímos de Lima às 4:00 horas da manhã para evitar o trânsito da cidade e chegar cedo a Camaná afinal seriam 855 quilômetros de estrada.

Em Lima deixamos as mulheres que haviam se juntado ao grupo em Cusco, Ana Carollina, Dona Lana e Lorie. Voltamos a ficar somente eu e a Luciana no clube da Luluzinha.

O nosso grupo estava muito afoito com a viagem e deixaram para tomar café da manhã em Ica. Eu e o Gustavo decidimos parar na estrada e saborear um delicioso café da manha sem pressa, afinal estamos em férias!

Gostaria de registrar aqui algumas impressões que tive das cidades e pessoas que vivem no deserto. Para começar jamais imaginei que pudesse existir uma duna de areia no meio de uma cidade, como é o caso de Ica. E mais, com um Oasis que faz a festa dos turistas. Só não dava para tomar banho como imaginaram nossas amigas Ana Carolina e Dona Lana, que foram comprar biquini ….rsrs...muito boml!

Em Ica não existe preocupação com as coberturas das construções, as casas mais humildes são cobertas apenas com uma fina palha trançada para proteção do forte sol do deserto. Até mesmo no hotel em que ficamos em Ica, as varantes e o bar era coberto com uma espécie de bambu sem nenhuma proteção contra a chuva. Isso parece estranho pra gente, mas se justifica quando descobrimos que nessa região simplesmente não chove há mais de 50 anos.

Durante o dia a temperatura é muito elevada, o sol é muito quente! Mas na sombra é bem fresco, pois a brisa é constante. Quando o sol se põe chega a ficar frio, em torno dos 22 graus. Com isso constatamos que o deserto é bem mais fresco que Cuiabá...rsrs

Voltamos a Ica e Nazca percorrendo o deserto pela estrada já conhecida, e depois seguimos pela rodovia Panamericana

Entre a cidade de Ica e Nasca, em pleno deserto e num calor escaldante, tivemos a grata surpresa de encontrar um brasileiro de bicicleta Edmilson Batista da Silva, o “Edmilson TrotaMundo” que estava a 5 anos e 11 meses na estrada, e já havia percorrido todo o Peru, publicado dois livros e estava escrevendo o terceiro.

Edmilson nos informou que será entrevistado pelo Jô Soares em Maio e em setembro gravará o programa do Luciano Huck.

Ao contrário de nós, o Edmilson não tinha nenhum equipamento de segurança, estava sem capacete, luvas, boné, protetores de joelho, etc., não tinha dinheiro nem para comer, e reclamava que os brasileiros não paravam para ajudá-lo.

Demos-lhe água, algumas barras de cereal, bolacha de sal, e um pouco de dinheiro, que segundo ele lhe possibilitaria chegar até Lima, ficando muito agradecido pela ajuda.

Ficamos com a sensação de que deveríamos ajudar mais, mas não tínhamos o que fazer, aquela era a forma que ele escolheu viajar! Todas as dificuldades que víamos, que pra nós eram desesperadoras, para ele faziam parte da programação, já estava no roteiro da viagem.

Edmilson fez relatos dos lugares maravilhosos que passou, dizendo que para ele somente daquela forma era possível apreciar tanta beleza, e ter a sensação de liberdade.

Pensei que nosso sentimento em relação a ele, talvez fosse o mesmo sentimento que algumas pessoas têm quando falamos que deixamos nossa casa, nossos filhos, o conforto de um carro para viajar por um período de 20 dias de moto, atravessando três países. No fundo estámos buscando o mesmo que o Edmilson, a sensação de liberdade através do contato direto com a natureza. A diferença é que conseguimos isso com a moto, e o Edmilson com sua bike.

Por fim, o Edmilson nos deixou uma mensagem sensacional que resume tudo: “Não importa...pois antes da sua BMW 1200 ou da minha bicicleta toda remendada, é preciso ter O ESPÍRITO...”.

O fato é que nosso encontro com o Edmilson nos trouxe uma energia nova, revigorante, fazendo com que nossa viagem ficasse muito mais leve e tranqüila, nos fazendo acreditar que o ser humano realmente não tem limite.

Esse encontro nos provou algo que já sabíamos: não estamos fazendo nada de extraordinário mesmo!! e não temos nenhum motivo pra escrever um livro, como nos sugeriram.

Estamos realizando uma viagem que idealizamos, conhecendo lugares diferentes, pessoas diferentes, tendo contado com outras culturas, e em muitos aspectos apreendendo a valorizar o nosso País e nossa cultura também.

Nossos relatos são feitos sem nenhuma formalidade, ora na primeira pessoa do plural, ora na primeira pessoa do singular, as vezes com erro de concordância, com linguagem coloquial, sem tempo sequer de corrigir o texto, realmente como se estivéssemos contando despretensiosamente nosso dia para um amigo.

E essa liberdade de escrever sem preocupação, apenas para registrar nossos momentos e impressões da viagem (muitas vezes até divagando) é que nós dá prazer, fora isso é obrigação, palavra totalmente vetada da nossa viagem!








Bom, deixando nossas divagações de lado e voltando ao nosso percurso...rsrs...

Conforme avançávamos a paisagem do deserto foi sendo modificada aparecendo gigantescas montanhas áridas. O vento que era constante trazia a areia do deserto para dentro da pista, desafiando a habilidade do meu piloto querido, que nos conduziu com toda segurança como sempre. Em vários trechos vimos máquinas escavadeiras retirando a areia da pista...

Sabíamos que naquela estrada chegaríamos ao Oceano Pacífico, em determinado momento começamos a visualizar ao longe o que parecia ser uma miragem do deserto...E a cada curva parecia que iríamos chegar até ele. E chegamos!

A paisagem era deslumbrante, do lado esquerdo o cinza do deserto com montanhas áridas esculpidas pelo vento, e do lado direito as águas azuis e brilhantes do Pacífico que em vários trechos se chocavam contra as pedras escuras dos penhascos a beira da estrada. Como se não bastasse, aliado a tanta beleza, o trajeto ainda era em grande parte percorrido em curvas...simplesmente inesquecível!! Essa paisagem nos acompanhou por aproximadamente quatro horas seguidas...

Não resistimos e por várias vezes paramos para tirar fotos daquela vista maravilhosa, e pra variar acabamos ficando para trás do grupo, o que não era um problema, afinal eu e o Gustavo nos divertíamos muito tocando no nosso ritmo.

Por volta da 13:30 hora, quando já estávamos conformados em almoçar barrinha de cereal e bolacha de sal, o Gustavo avistou uma placa que nos indicava um restaurante a 1.800 metros da rodovia, em uma vicinal de chão em direção ao mar.

Íamos ficar mais atrasados ainda do grupo, mas não resistimos e fomos ao Restaurante Puerto dos Incas, a beira do Pacífico, com uma vista incrível. Pedimos ceviche de entrada, e mais dois pratos de peixe, um verdadeiro banquete no meio do nada.

Chegamos no final da tarde em Camaná, e ficamos sabendo que o nosso guia Braulio teve que retornar para socorrer o carro de apoio que havia quebrado, e que só chegaria no dia seguinte.

A preocupação do grupo é com o horário de sair no dia seguinte, já que o Braulio ainda não chegou e no dia seguinte vamos atravessar a fronteira com a Bolívia...mas isso já será outro dia...

Obrigado a todos pelo carinho, e até amanhã.

Beijos e fiquem com Deus!

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